quinta-feira, 30 de junho de 2011

Talentos Acadêmicos

“As crianças e jovens portadores de talentos acadêmicos geralmente apresentam precocidade no desenvolvimento verbal e no desenvolvimento do pensamento lógico. Além disso, freqüentemente aprendem com pouca ajuda ou estímulo de um adulto e de modo diferente do usual. Apresentam grande curiosidade e preferência por novidades, excelente capacidade de memorização, persistência e concentração nas tarefas, interesses obsessivos e altos níveis de energia.

Talentos acadêmicos geralmente aprendem a ler antes da idade em que são apresentados formalmente à leitura nas escolas. Isto pode acontecer aos 3 ou 4 anos, mas em alguns casos essas crianças aprendem a ler aos 2 anos de idade, quase ao mesmo tempo em que aprendem a falar. A precocidade lógica não tem sido documentada tão freqüentemente, porém há casos de crianças que aos 3 anos eram capazes de dizer quanto custaria a compra dos itens colocados por sua mãe num carrinho de supermercado, ou a diferença entre a idade dos membros de sua família. Porém uma característica bastante freqüente dessas crianças é a busca constante de explicações lógicas para tudo o que ocorre ao seu redor, muitas vezes levando seus cuidadores à exasperação.

Crianças portadoras de talentos acadêmicos demonstram, desde muito cedo, sua capacidade de aprender com pouca ou nenhuma ajuda de um adulto. Isto não só é responsável pela demonstrada precocidade na leitura, mas também por outras aprendizagens, tais como o funcionamento de determinadas máquinas ou equipamentos ao seu redor, a identificação das cores antes dos 2 anos, o uso do computador, etc. A forma com que aprendem é certamente muito diferente daquela empregada por crianças ditas normais, uma vez que ‘queimam’ etapas e seguem caminhos diferentes, por meio da transferência de conhecimentos. Desde muito cedo os portadores de talentos acadêmicos demonstram uma curiosidade imensa, que os leva a buscar o conhecimento sobre assuntos tão variados quanto as bandeiras de todos os países do mundo, os dinossauros, os astros, o funcionamento de equipamentos, os insetos, ou outro qualquer. Essa curiosidade se traduz por interesses obsessivos que geralmente duram até que se esgote a sede por aquele conhecimento específico. Logo buscam outro assunto, que também toma a forma de interesse obsessivo. Por terem excelente memória, fazem associações, extremamente pertinentes e por vezes originais, de idéias e de assuntos. Quando se ocupam com tarefas de seu interesse, os talentos acadêmicos demonstram persistência e concentração, podendo abstrair-se de atividades que ocorrem ao seu redor. Além disso, têm muita dificuldade de abandonar tarefas incompletas, sendo capazes de estender sua dedicação para além de limites razoáveis.

Finalmente, a energia despendida por alguns talentos acadêmicos é imensa. Esta energia tanto pode ser canalizada para atividades e tarefas construtivas quanto pode se manifestar como hiperatividade e/ou desinteresse, quando suas necessidades educativas não são devidamente atendidas. Crianças e jovens portadores de talentos acadêmicos podem tornar-se adultos eminentes, embora não haja garantias de que isto ocorra. Porém é certo que, para que se tornem adultos produtivos, são necessárias adaptações nas ofertas educativas e culturais feitas a eles; apenas isso permitirá que desenvolvam seus potenciais até os limites realizáveis.”

Anônimo 

[PDF]
 

Talentos Acadêmicos

www.aspat.kit.net/acerta.pdf

INTELIGÊNCIA Versus CRIATIVIDADE

Com sua metodologia verbal e numérica as escolas até agora não estão equipadas ideologicamente para processar informações nas características do hemisfério direito. Embora os educadores se mostrem sempre mais interessados no pensamento intuitivo e criativo, o sistema de ensino continua arraigado às estruturas típicas do hemisfério esquerdo. O ensino é sequencial: os alunos são promovidos de um primeiro até último ano de cada ciclo numa sequência escalonada. As principais matérias são verbais e numéricas: ler, escrever e contar. As aulas têm seus horários. Os alunos são colocados em carteiras organizadas em filas, subordinadas hierarquicamente à supremacia da mesa do mestre, e em todas as questões, as respostas são classificações estereotipadas. Os professores dão notas, e cada um cumpre subordinadamente o seu papel.
Mas todos sentem que alguma coisa está faltando…
Embora todo o interesse no pensamento intuitivo e criativo faça parte do interesse dos educadores, o sistema educacional continua estruturado em torno da  modalidade típica do hemisfério esquerdo. Há uma tendência tão grande em se premiar o hemisfério esquerdo, que desperdiçamos um potencial enorme dos cérebros das crianças. O futuro artista, o artífice e o sonhador sentem-se perdidos neste sistema educacional, e pouco aprende.
O hemisfério direito, poético, sonhador e artista, pouco aprende relegado ao desprestígio. Encontra enxertos disciplinares em matérias como a música, o desenho, a “redação criativa”. Pois acreditam os educadores que imaginação, percepção e intuição, e criatividade se desenvolvem como consequência natural do ensino das matérias verbais e analíticas.
"Os seres vivos, mesmo os mais primitivos, do ponto de vista evolutivo, têm capacidade de armazenar e processar informações originárias tanto do meio ambiente quanto do meio interno. Informações como variação de temperatura, pressão, luminosidade, concentração de substâncias químicas, etc. Desse modo, procuram fontes luminosas, afastam-se de substâncias tóxicas, e de outros modos desempenham a função de processar informações. Nos organismos mais evoluídos, essa função, que está na base do que se chama inteligência, é desempenhada principalmente pelo sistema nervoso central e suas "antenas", são  os órgãos dos sentidos. No entanto, é preciso não esquecer que,  ao longo do processo evolutivo, os seres mais desenvolvidos conservam algumas características dos que os precederam. Assim, se tivesse que desempenhar  todas as funções que requerem "inteligência", o sistema nervoso central necessitaria muito mais do que as dezenas de bilhões de células especializadas, os neurônios, que os constituem. Sabe-se hoje, que muitas atividades "inteligentes" dos seres vivos são desempenhadas ao nível das moléculas que compõem suas  células. A descoberta de que isso ocorre representa uma importante contribuição para a compreensão da atividade de processamento de dados intrínseca às manifestações de inteligência."1
Os neurônios são células que contém em geral dez trilhões de moléculas, sendo que três quartos delas são água. Cêrca de um bilhão de moléculas de cada neurônio são macromoléculas, e dentre elas estão as macromoléculas das proteínas, dos ácidos nucléicos, os polissacarídeos, etc. Dentre as macromoléculas, estão as moléculas inteligentes que são algumas proteínas organizadas em sequências estruturais, os aminoácidos, formando os polímeros; e ácidos nucléicos ADN e ARN, que contém a memória genética. O ordenamento espontâneo das cadeias polipeptídicas de uma proteína pode ser encarado como manifestação primitiva de memória e portanto de "inteligência", não sendo porém a única demonstração de inteligência que as proteínas apresentam.
Nossa civilização vem mudando rapidamente e é muito difícil prever quais aptidões as gerações futuras precisarão desenvolver. Embora até agora tenhamos dependido do hemisfério cerebral esquerdo, o impacto social que a tecnologia já causou no ambiente, nos remete à questionar nossos defasados métodos educacionais fundados no Positivismo de August Comte. Nossa postura epistemológica, remanescente das ciências normatizadas e compartimentalizadas por Comte, impede-nos de uma nova visão ideológica da transdisciplinaridade do conhecimento científico, nos afasta do conjunto holístico da Ciência, e nos mantém atrelados à contraposição da teoria com a prática. Assim, cristalizamos a educação no repasse do conhecimento sedimentado e morto de currículos anacrônicos; preserva o professor na cátedra como o emanador do conhecimento e de toda a informação científica, e o aluno na categoria de mero e humilde aprendiz.
Precisamos nos descartar de nossa ideologia pedagógica anacrônica, e assumir que a nova epísteme das ciências, traz embutido em si seu novo método cognitivo de produção de linguagem e construção de conhecimento, através do processo de ensino centrado no aprendizado, envolvendo professor e aluno. Em que o objetivo último do aprendizado seja criar soluções, e não lidar com problemas.2  É fundamental modificar nossa cultura pedagógica, sem abrir mão do conhecimento técnico que o professor deve possuir como facilitador do aprendizado. Isso acarreta uma revolução cultural com reflexos imediatos e futuros em toda a tessitura social: mudam de postura o professor e o aluno, reestruturam-se as instituições do ensino, e transforma-se a sociedade.
Como se processa o conhecimento?
Sem abandonar o ensino das competências verbais e lógicas, precisamos desenvolver técnicas de ensino que estimulem os poderes intuitivos e criativos das crianças, preparando esta geração para enfrentar os novos desafios com imaginação, inventividade, e flexibilidade. Precisamos desenvolver a percepção dinâmica para melhor elaborar complexos conjuntos de idéias e de fatos correlatos. As configurações básicas de eventos assumem então, conotações novas, ao se desenvolver a capacidade de ver velhos problemas de uma nova forma.
Um jovem que funcione somente intelectualmente na sala de aula, sem que seu corpo físico, emocional e espiritual participem concomitantemente, se não oferecermos a esse jovem um ambiente que permita uma interação total, sua energia se esgota no imenso esforço de manter toda ela numa via única. E ele perde a vitalidade e dissipa a criatividade.
Mas o que é criatividade? 
Criatividade é tratar de uma forma nova e adequada um problema persistente. É considerar novos fatores, de forma não prevista como ítens intervenientes na solução. É encontrar nichos de linguagem não regulamentados ou classificados ordinariamente.
Um dos momentos decisivos da pintura ocidental, foi a descoberta por Giotto, da terceira dimensão, fato pictórico que introduzia séculos antes da dialética de Hegel, a lógica do terceiro polo, na mente ocidental.
Quebrar o molde costumeiro de pensamento e estender as possibilidades da percepção em remanejo das conexões estabelecidas faz emergir um acréscimo de conhecimento. Relacionar fatos alheios entre si, trazendo o novo e o adequado a uma dada situação é criatividade. O pensamento criador é inovador, exploratório, aventureiro. Impaciente ante a convenção, e é atraído pelo desconhecido e o indeterminado. O risco e a incerteza são estímulos ao pensamento criativo. Porém, diante de uma obra revolucionária, só podemos expressar agrado ou desagrado, pois é impossível avaliar uma obra inovadora por padrões anteriores, o que não é outra coisa senão julgar um sistema de valores por outro.
O pensamento verbal, não criativo, é porém, cauteloso, metódico, conservador. Absorve o novo no já conhecido e prefere dilatar as categorias existentes a inventar novas. Nas lides com a lógica, todo o universo do conhecimento já foi analisado, categorizado, classificado, hierarquizado,  arquivado e creditado. O pensamento verbal não assume os riscos da dúvida: lida com as certezas. Não lida com a dúvida, só trabalha em cima de dogmas.
O pensamento criativo prefere o risco. A desautomatização do hábito é a premissa, a condição primordial que faz emergir a criação.
Ver o que diante dos nossos olhos se apresenta nos conduz à extrema criatividade. A arte de ver coisas que sempre estiveram ali, nos permite representar sem estereótipos da cultura e do inconsciente coletivo. O olho, como instrumento de leitura é o foco biônico que focaliza, seleciona e privilegia certos pontos.
O caos não supõe crenças, subordinação a nada,  experiência precedente, nem compromissos com o acerto. Com isso praticamente descrevemos o universo da Arte e o universo da Ciência viva. Podemos dizer que a inteligência se confunde com a Ciência; e a criatividade com a Arte. Também é certo que a boa Ciência incorpora o caos através da criação, quando avança na vanguarda do conhecimento, em delirante ginga  com a lógica. E muito da Arte tecnológica se processa sobre conceitos científicos como sua premissa de linguagem.
Por sua vez, criatividade é processar e relacionar de novas formas as informações de que já se dispõe. O ser criativo percebe intuitivamente as possibilidades de transformar dados comuns em uma nova criação, que transcende a própria matéria prima. Pois coletar dados e transformá-los criativamente são dois processos diferentes. Por isso, conhecer as funções cerebrais e elaborar uma teoria da percepção são dois passos fundamentais para se desenvolver novas técnicas de ensino, aptas na tarefa de liberar a criatividade e a originalidade de cada indivíduo.A criatividade só existe para aquele que lida com o caos.
Incorporar ao sistema educacional a tecnologia da cognição como estrutura do próprio sistema, é o único meio de desenvolver o potencial da consciência nos jovens. Abranger aqui apenas alunos e crianças pequenas é insuficiente para uma possibilidade tão abrangente. Tudo pode ser aplicado a qualquer indivíduo que deseje liberar sua criatividade.
Aquietar a mente em níveis mais baixos das frequências cerebrais, reduzindo a atividade mental, leva aos estados fundamentais da consciência, ampliando-a a estados de percepção ilimitada, ao eliminar as operações do pensamento racional. Os padrões de ordem da natureza estão gravados no microcosmo que o nosso corpo abriga. E as leis que guiam a evolução da espécie se revelam ao indivíduo que a elas dão acesso através da introspecção.
Criatividade é reagir de uma maneira nova e adequada a uma dada situação. A criatividade é vital, porque constatamos através da história da humanidade, que sobrevive não o mais forte, não o mais perfeito, não o maior, ou o mais bonito: sobrevive aquele que reage de maneira nova e adequada às mudanças do ambiente.
A criatividade exige em primeiro lugar a exclusão das crenças, depois, observação acurada do real, depois questionamento do que está estabelecido e por fim, estabelecimento de novas relações entre os elementos.

Cynthia Esquivel