quinta-feira, 10 de novembro de 2016

EDUCAÇÃO NO III MILÊNIO: QUANDO ALUNOS DÃO AULA A MESTRES

Ana Júlia e a palavra encarnada

O movimento de ocupação da escola pública tornou-se a principal resistência ao projeto não eleito e pode ser a pedra no caminho do PSDB em 2018

A estudante Ana Julia, 16 anos, ao discursar na Assembleia Legislativa do Paraná.  REPRODUÇÃO
Ana Júlia Ribeiro resgatou a palavra num país em que as palavras deixaram de dizer. E que força tem a palavra quando é palavra. O vídeo que viralizou levando o discurso de Ana Júlia para o mundo mostra que a palavra dela circula pelo corpo. É difícil estar ali, é penoso arriscar a voz. Ela treme, ela quase chora, Ana Júlia se parte para manter a palavra inteira. A câmera às vezes sai dela e mostra a reação dos deputados do Paraná. Alguns deles visivelmente não sabem que face botar na cara. Tentam algumas opções, como numa roleta de máscaras, mas parece que as feições giram em falso. Deparam-se aflitos com a súbita dificuldade de encontrar um rosto. A palavra de Ana Júlia arruinou, por pelo menos um momento, a narrativa que começava a se impor: a da criminalização dos estudantes e de seu movimento de ocupação da escola pública. Mas a disputa ainda é esta. E tudo indica que se tornará cada vez mais pesada: são os estudantes que estão no caminho do projeto de poder do governo de Michel Temer e das forças que o apoiam. E são também eles que podem atrapalhar o tráfego de quem corre para 2018, em especial o PSDB de Geraldo Alckmin.
A maior parte da imprensa ignorou o movimento de estudantes que, no final da semana passada, ocupavam cerca de 800 escolas públicas do Paraná e outras centenas pelo país, incluindo universidades, em protesto contra o projeto de reforma do ensino médio do governo Michel Temer (PMDB). Projeto apresentado como Medida Provisória, o que é só mais um sinal do DNA autoritário dos atuais ocupantes do poder. Os estudantes também ocuparam as escolas em protesto contra a PEC- 241, que congela gastos públicos por 20 anos e pode reduzir o investimento em educação e saúde, áreas estratégicas para o país, com impacto direto sobre os mais pobres.
A potência da voz de Ana Júlia é a da palavra que tem corpo
A ocupação das escolas públicas era – e é – o movimento mais importante deste momento no país – e o espaço na imprensa, quando havia, era mínimo. Até o dia em que um estudante matou outro a facadas, dentro de uma das escolas. Aí as matérias apareceram. Havia então o que dizer. Transformar um fato isolado, com suas circunstâncias particulares, em estigma de todo um movimento levado adiante por milhares de jovens é uma especialidade conhecida do não jornalismo e da política sem ética. E então veio o discurso de Ana Júlia. Não pós-verdade, mas verdade. A verdade dela, do coletivo de estudantes que ela ali representava. A potência da voz de Ana Júlia é a da palavra que tem corpo.
As reações ao discurso de Ana Júlia expressam a época histórica que encontra sua melhor crítica numa série de ficção: Black Mirror (Netflix), com suas distopias sobre a vida atravessada pelas novas tecnologias. Há pelo menos duas maneiras de esvaziar a palavra de Ana Júlia esvaziando Ana Júlia. Uma delas é ridicularizá-la. O tremor da voz, do corpo, as lágrimas viram “argumentos” para fragilizar seu discurso. É o velho truque usado contra as mulheres, usualmente reduzidas a “histéricas” ou “loucas” ou “mimimi”. O todo que constrói a voz é atacado para deixar sua palavra, o verdadeiro alvo, sem lastro. Sem corpo. Desde que seu discurso viralizou, seus 16 anos de vida estão sendo vasculhados na tentativa de encontrar qualquer episódio que possa ser torcido, para destruir sua palavra destruindo-a. Se não existir, pouco importa, fabrica-se – como se viu em vídeos e sites pela internet.
Mas há também uma outra forma de esvaziar a palavra de Ana Júlia, e esta parece inofensiva, “do bem”. É transformar Ana Júlia em “heroína” ou na “esperança de um país”. Nessa narrativa, Ana Júlia é isolada do grupo que sustenta seu discurso, seu corpo. Ela, que representava muitos, que era multidão, passa a ser conjugada no singular. Sozinha, Ana Júlia pode muito pouco.
O outro efeito dessa “celebrização” é a exigência do que Ana Júlia não pode ser – e não pode ser nem quando pode muito. Num país mastigado por uma crise que também é de palavra, não há como transferir para uma jovem de 16 anos a responsabilidade por “salvar” o Brasil, transformando-a em encarnação da “esperança”, esta que também é tão superestimada. Neste lugar simbólico, qualquer um, mesmo que tivesse 80 anos de idade, estaria condenado ao fracasso. Inflar sua palavra é também uma forma de despontencializá-la.
A única proteção contra esquartejamentos na arena pública é o coletivo
Ao esclarecer que seu discurso foi preparado em conjunto com o grupo de estudantes, pedir para não tirar fotos sozinha e evitar falar de sua vida pessoal, Ana Júlia parece conhecer os riscos de ser convertida em celebridade instantânea. Se esta conversão fosse completada, sua palavra viraria produto. E Ana Julia seria consumida e cuspida, como já aconteceu com tantos. Nos dias que se seguiram ao discurso na Assembleia Legislativa do Paraná, em Curitiba, foi possível testemunhar muitas mãos, vindas de várias direções, tentando arrancar lascas da palavra-corpo de Ana Júlia. A única proteção contra esquartejamentos na arena pública é o coletivo, o grupo, o juntos – o movimento.
Em um momento do seu discurso de 10 minutos e 40 segundos, Ana Júlia menciona a morte do estudante Lucas Eduardo de Araújo Mota e afirma: “Vocês estão aqui representando o Estado, e eu convido vocês a olhar a mão de vocês. A mão de vocês está suja com o sangue de Lucas. Não só do Lucas como de todos os adolescentes que são vítimas disso. O sangue do Lucas está na mão de vocês, vocês representam o Estado”.
O presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), como um daqueles tubarões rápidos em detectar um flanco de oportunidade, acreditou que havia ali uma chance de atacar a menina e devolver o plenário ao seu ambiente natural, aquele em que peixinhos dourados não confrontam velhos carnívoros. “Aqui você não pode agredir o parlamentar.... Eu vou encerrar a sessão, eu vou cortar a palavra... (...) Não afronte deputado, aqui ninguém está com a mão manchada de sangue, não”, inflamou-se. Encerrar a sessão, “cortar a palavra”, seria mesmo uma bênção para uma parcela dos parlamentares.
Ana Júlia seguiu defendendo as palavras: “Eu peço desculpa, mas o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes, pelos nossos estudantes é da sociedade, da família e do Estado”. Nem precisaria pedir desculpas. Ela estava falando em português para pessoas que deveriam ter capacidade de interpretação de discursos em língua portuguesa. O deputado entendeu muito bem que ela não se referia a mãos literalmente “sujas de sangue” ou apontava uma relação direta com a morte do estudante, mas estava, sim, chamando atenção sobre a responsabilidade constitucional dos parlamentares em sua função pública. O deputado apenas preferiu apostar na burrice – e parece que ninguém perde no Brasil atual ao apostar na burrice.
Com o projeto conservador avançando, os partidos progressistas derrotados nas urnas, as esquerdas brigando entre si, sobrou para os estudantes uma responsabilidade grande demais
Há um ponto, neste episódio, que é justamente a responsabilidade dos adultos. Com a escola pública, com o Brasil. A ação dos estudantes tornou-se o principal movimento de resistência ao projeto não eleito do governo Michel Temer e das forças que o apoiam. Com a oposição fragilizada, o PT quebrado, capitais importantes como São Paulo e Rio nas mãos de conservadores e as esquerdas sem projeto e brigando entre si, sobrou para os estudantes secundaristas um peso grande demais. Neste sentido, foi um pouco assustador testemunhar adultos infantilizados tratando Ana Júlia como um oráculo de 16 anos. É preciso fazer melhor do que isso tanto para apoiar os estudantes, respeitando sua autonomia, quanto para construir um projeto capaz de ecoar no país.
A escola pública foi destruída e abandonada por décadas. Também o PT fez menos do que poderia, em especial nos ensinos fundamental e médio, durante os 13 anos que permaneceu no poder. Enquanto a classe média pôde matricular seus filhos nos colégios privados, ninguém se preocupou com os filhos dos mais pobres, que não tinham educação e viviam um cotidiano de violações. A violência começa pelo salário humilhante dos professores, o abandono dos prédios e uma escola que não educa, incapaz de qualificar o desejo e ampliar os mundos de crianças e adolescentes. Tudo indica que aqueles que ali estão não têm valor para o país, relegados ao lugar simbólico de restos.
Enquanto foi este o estado das coisas, bem poucos parecem ter se preocupado para além do discurso vazio, das palavras sem corpo sobre a importância da educação, que ressurgiam a cada eleição e que culminaram com “Brasil, Pátria Educadora”, o slogan do governo deposto de Dilma Rousseff. Dizer que “educação é prioridade” se tornou um falso consenso que, em vez de palavra, virou flatulência.
As escolas públicas só se tornaram um problema para as forças conservadoras quando os estudantes as ocuparam para exigir educação de qualidade
Ter escolas que não educam para os mais pobres nunca foi de fato um problema para as elites do país. Estava tudo bem assim. O problema surgiu quando os estudantes das escolas públicas de São Paulo entenderam que a “reorganização escolar” imposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que fecharia mais de 90 colégios e remanejaria mais de 300.000 alunos, era um abuso. Ocuparam então as escolas no final de 2015. E, mais do que ocuparam, cuidaram do que ninguém cuidava – limpando, pintando e consertando – e disseram que queriam, sim, ser educados. Cuidar das escolas e reivindicar ensino de qualidade virou uma transgressão a ser punida. E a ser criminalizada.
A ideia de que as escolas podem ser ocupadas, num sentido profundo, por aqueles que dela dependem para ter oportunidades na vida, se alastrou pelo país. “De quem é a escola? A quem a escola pertence?” foi uma das primeiras perguntas de Ana Júlia aos deputados do Paraná. É uma grande pergunta, e os estudantes têm uma resposta a propor.
Movimentos de “Ocupa Escola” começam, acabam e recomeçam em diversos estados do Brasil desde o ano passado. A ocupação das escolas do Paraná coincidiu, porém, com um momento ainda mais delicado do país: um projeto não eleito no governo federal, apoiado por um Congresso corrompido, tocando com grande rapidez reformas cruciais, como a PEC-241, sem debate com a sociedade.
Quem está, de fato, no caminho deste projeto de poder, tanto quanto das ambições de algumas figuras nacionais, neste momento de oposição fragilizada ou mesmo atarantada? Os estudantes secundaristas com seu “Ocupa Escola”, uma luta que ganhou uma dimensão muito maior do que eles poderiam prever. Assim, há várias forças tentando destruir o movimento, seguindo a cartilha de sempre: criminalizando-o.
É importante perceber que, de repente, a escola, com a qual bem poucos se importavam para além do discurso vazio, virou o alvo de ataques conservadores bem organizados. “Escola Sem Partido”, o projeto-aberração que busca criminalizar o pensamento crítico dentro das escolas e, portanto, acabar com a possibilidade de qualquer processo educativo, é uma das ofensivas em curso. “Escola Sem Partido é falar pros jovens, pra sociedade, que querem formar um exército de não pensantes, um exército que ouve e baixa a cabeça”, disse Ana Júlia aos deputados do Paraná.
O “sem partido”, vale prestar muita atenção, é a malandragem do momento. Ela busca encobrir todos os partidos que estes projetos tomam – e vender uma suposta neutralidade ideológica que não têm. Sem contar a crescente criminalização dos partidos políticos, tanto como conceito quanto como atores do processo democrático, algo que merece uma atenção exclusiva em outro artigo.
Entre as tentativas de deslegitimar o movimento dos estudantes, a mais corriqueira é anunciar que os alunos são “manipulados” e “aparelhados” justamente por partidos de esquerda. Fizeram o mesmo com Ana Júlia tão logo seu discurso viralizou na internet. É triste assistir a ela e a outros estudantes terem de explicar de novo e de novo para jornalistas e mesmo para parlamentares que o movimento é “apartidário” – o que é diferente de “sem partido”.
É impressionante que ainda funcione essa nova versão dos comunistas comendo criancinhas enquanto o Brasil se torna o país do mais um direito a menos por dia
Não fosse parte da população tão estúpida, perceberia que os partidos identificados com a esquerda foram derrotadas nas urnas nestas últimas eleições e que o projeto conservador vem atropelando o país de forma acelerada, transformando o cotidiano em mais um direito a menos por dia. Lula teria ligado para Ana Júlia para dizer que estava “emocionado” com o movimento? Era Lula que precisava disso, não Ana Júlia e o movimento que representa. Se tivesse preocupado com a causa dos secundaristas mais do que com a sua sobrevivência política, Lula teria inclusive se abstido deste telefonema.
Assim, é impressionante que ainda funcione essa nova versão dos comunistas que comem criancinhas enquanto os direitos da população estão sendo engolidos, digeridos e defecados em Brasília pelas forças que, mais uma fez, refazem o pacto conservador para manter os privilégios intactos. A tática de inventar um inimigo e alimentar com ele o medo da população é tão antiga quanto a humanidade. Que ainda funcione pode ser explicado por aqui pela péssima educação pública, que pode piorar ainda mais, como alertam os estudantes.
O MBL parece bem mais interessado em criminalizar os estudantes que ocupam as escolas do que em denunciar os corruptos que seguem dando as cartas em Brasília
O Movimento Brasil Livre (MBL), um dos protagonistas das manifestações pró-impeachment de Dilma Rousseff, tem atuado pela desocupação das escolas no Paraná e se esforçado para criminalizar o movimento dos estudantes. Aqueles que levantaram a bandeira da “corrupção” nas ruas do país, enquanto tiravam fotos junto com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), depois da deposição de Dilma parecem bem pouco interessados nos corruptos que seguem em Brasília dando as cartas. Mas, em contrapartida, estão muito empenhados em tirar os estudantes do caminho. Vale a pena observar com toda atenção que partidos o MBL apoia. Neste domingo, por exemplo, ajudou a eleger o novo prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), numa eleição que teve vidros estilhaçados e até uma morte, ambos os episódios ainda mal explicados. É a primeira vez que o PSDB comandará a capital gaúcha.
Com a Lava Jato rondando José Serra e Aécio Neves, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, vai chegando cada vez mais perto de ser o candidato do partido à presidência em 2018. Saiu das eleições de 2016, onde arriscou-se e ganhou, muito mais fortalecido. Se o PSDB foi o vencedor do pleito municipal, Alckmin – ao eleger João Doria prefeito de São Paulo ainda no primeiro turno, contrariando outros setores e caciques do partido, e ampliar a presença de sua base aliada nas prefeituras de outras cidades e regiões do estado – foi o campeão. Impressionante que ainda chamem de “picolé de chuchu” um dos políticos mais complexos – e assustadores – do Brasil atual.
Alckmin, o vencedor das eleições de 2016 que quer vencer em 2018, só perdeu batalhas significativas para os estudantes
Alckmin se reelegeu governador no primeiro turno, em 2014, em plena crise hídrica, negando a crise hídrica. Antes, em 2013, os protestos nas ruas aumentaram depois que a polícia de Alckmin arrebentou manifestantes e também jornalistas. Mas, em pouco tempo, com a ajuda de parte da imprensa, os manifestantes foram convertidos em “vândalos”. E, mais uma vez, Alckmin se safou.
Nos últimos anos, a única tentativa de Alckmin que não colou foi a criminalização dos estudantes que ocuparam as escolas públicas de São Paulo no final de 2015. Sua polícia começou a arrebentar crianças e adolescentes nas ruas e as imagens eram chocantes demais mesmo para os mais crédulos. Alckmin, o assustador, viu sua popularidade cair. O governador perdeu aquela batalha, e perdeu para adolescentes.
Os estudantes da escola pública estão no meio do caminho do projeto de poder de muita gente inescrupulosa. Com seus corpos franzinos. Com sua voz trêmula. Tão sós num momento em que os adultos que poderiam estar ao seu lado têm dificuldade para compreender a gravidade do momento e assumir responsabilidades.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum

sábado, 13 de fevereiro de 2016

O QUE ACONTECE QUANDO SE COLOCA UM CUBO DE GELO NA PARTE DE TRÁS DA CABEÇA?










Rosemary Rocha com Cleusa Garbo e outras 15 pessoas.
 

A medicina tradicional chinesa descobriu um ponto do nosso corpo que quando é estimulado promove um bem estar geral.
Este ponto chamado de Feng Fu, é um ponto de pressão que se situa atrás da cabeça, na base do crânio, na parte superior do pescoço.
Ponto Feng Fu
De acordo com a medicina tradicional chinesa o Método do Ponto Feng Fu não trata os problemas do organismo. Na verdade, este método, faz com que o corpo volte ao seu equilíbrio fisiológico natural – fornecendo um forte impulso de vida rejuvenescendo todo o corpo.
Aplicação de gelo no ponto Feng Fu
Técnica da aplicação de um cubo de gelo no ponto Feng Fu:
Escolha uma posição confortável de barriga para baixo.
Aplique um cubo de gelo, uma ou duas vezes por dia, durante 20 minutos.
Se lhe for mais conveniente, pode usar um pano ou um saquinho de plástico para envolver o cubo de gelo.
Ao fim de 30 segundos começará a sentir um leve calor neste ponto.
Nos primeiros dias há a possibilidade de uma leve sensação de euforia devido à libertação de endorfinas.
Ponto Feng Fu
Alterações que poderá sentir ao aplicar este método:
– Diminuição de dores de cabeça, dores de dentes e de articulações;
– Ajuda a regular problemas de tensão arterial (hipotensão e hipertensão);
– Melhoras no sistema digestivo;
– Melhoras do seu sono e humor;
– Alívio de infecções gastro-intestinais e doenças sexualmente transmissíveis;
– Alívio de perturbações neurológicas e distúrbios psico-emocionais: fadiga crónica, stress, depressões, insónias, etc;
– Inibição de alterações degenerativas da coluna vertebral;
– Melhoras de problemas respiratórios;
– Ajuda a inibir problemas ligados ao sistema cardiovascular;
– Eliminação de constipações frequentes;
– Estabilização de distúrbios provocados pela tiróide;
– Alívio de ataques de asma;
– Redução da celulite;
– Melhoras de problemas do trato gastro-intestinal,;
– Melhoras de desordens ligadas à obesidade e à má-nutrição;
– Alivio de desordens ligadas à frigidez, impotência e infertilidade;
– Melhoras de problemas menstruais.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

OS AVATARES DA NOVA ERA

2Cellos Madison Concert February 20, 2015

O Projeto Terra e a Data Limite | Prof. Laércio Fonseca (Completo)

Principais equívocos epileptológicos


 
Paulo Cesar Trevisol Bittencourt

Este texto é produto da observação de alguns milhares de usuários de drogas anti-epiléticas por pelo menos duas décadas no Estado de Santa Catarina, região sul do Brasil e também de algumas dezenas no vizinho Paraná e na Inglaterra. À semelhança de outras grandes nações, nosso país é um mosaico composto por áreas bem distintas entre si. É possível, por esta razão, ele não refletir o que sucede em outras regiões; embora não acredite; pois conheço, e bem, a realidade médico-social da maioria dos estados brasileiros. De acordo com a encomenda, ele será obviamente crítico, enfatizando aspectos que contribuíram ou ainda contribuem para macular práticas epileptológicas da medicina tradicional. 

Entretanto, o progresso exibido nos últimos anos, apesar de heterogêneo, e por isso bem típico do nosso charmoso país, é tão rápido que me permite ser otimista e vislumbrar a erradicação desses problemas em poucas décadas de trabalho duro e honesto. E, sinceramente, admito ser este o maior entrave. Por outro lado, observo, a bem da verdade, que vários deles não são uma exclusividade do Brasil, podendo ser facilmente identificados em quaisquer outras sociedades, inclusive naquelas rotuladas como primeiro-mundistas. 

Assim, ao dar vazão a minha iconoclastia crônica, admito a probabilidade de que meus comentários sejam mal interpretados e por isso despertarem ressentimentos ou original paranóia, em uns poucos colegas. Evidente que fatos vivenciados foram minha principal fonte de inspiração; todavia, gostaria de lhes reafirmar o caráter impessoal das minhas críticas. Além disso, friso que, ao longo da minha vida, a nobreza da ética, tão vilipendiada nos tempos atuais, sempre foi tributada a profissão e nunca a notórios farsantes da corporação médica. 

Para fins didáticos, tópicos serão enfocados individualmente. Finalmente, longe de mim a pretensão ao monopólio da razão; assim, respostas aos comentários que seguem, e para isso lhes é oferecido um endereço ao seu final, serão sempre bem vindas e gratificariam amplamente o esforço despendido. 

Finalizando, reconheço que muito mais poderia ser escrito sobre o tema; atento ao editor, restrinjo minhas críticas aos itens que pessoalmente considero como mais abomináveis e a despeito disso, passíveis de reparação imediata. 

Disritmia cerebral
É incrível como este rótulo anacrônico, de natureza francamente imbecil ou "philantrópica", permanece enraizado na sociedade brasileira. No mínimo uma vez por semana recebo carta de alguma pessoa questionando-me sobre a mesma. Entretanto, como o teor destas mensagens é muitíssimo semelhante, ofereço-lhes como ilustração delas, intacta, esta carta eletrônica recebida em 21/06/02: 


"Sou professora do município de Cabo Frio, e dou aula para a primeira série. Tenho um aluno que muito me preocupa pois não sei o que e como ensinar a ele. Ele tem disritmia cerebral, a mãe dele disse que ele começou a ter problemas, sintomas há quase um ano atrás. Ele tem 9 anos.
Ele toma gadernal 50 mg - 2x ao dia e hidantal 100mg - 3x ao dia.
Segundo a mãe, tem 3 meses que ele está em tratamento. E de início ele tomava hidantal 3 comprimidos inteiros por dia.

Estou muito assustada pois ele é aluno novo, e tem esses problemas. A mãe me avisou que ele pode ter alguns ataques como ficar desmaiado, enrolar a língua e ficar roxo.E pediu para que eu não deixasse ele correr no sol. Confesso que estou com medo, e tenho medo de qualquer coisa provocar esses ataques.
Além disso, ele sente muito sono (será que são os remédios? o que eu faço?) ele teve um ataque esta noite passada em casa, e hoje a mãe dele me avisou.
Ele é muito descontrolado, agitado, não tem noção de perigo,não consegue se socializar,não tem paciência, nem limites,não consegue se concentrar e ficar parado para realizar as atividades. O que eu faço? Devo ensinar a ele com alguma diferença? Ele as vezes esquece das coisas, das atividades, dos colegas, de onde ele está. Ele gosta de me perguntar sempre, porque ele está ali (na escola) e se falta muito para ir para casa pois está com sono.
Estou pedindo ajuda, pois não sei o que é essa doença, se tem cura, como eu posso ajudá-lo, o que devo fazer, quais as perspectivas dele ser como os outros?
Aguardo com urgência a resposta."

Introduzido pelo casal de eletroencefalografistas Gibbs, como sinônimo de epilepsia nas décadas de 20-30 do século passado, com a anuência expressa de William Lennox, o pai da epileptologia norte-americana, tinha o declarado objetivo de atenuar preconceitos sociais. Porém, com o passar dos anos, Disritmia Cerebral (DC), virou um tremendo saco de gatos, e das mais variadas espécies. Médicos, muitos deles bem intencionados, alguns definitivamente não, vislumbraram na expressão uma maneira simpática e socialmente aceitável para diagnosticar epilepsia; todavia, com o tempo expandiram este diagnóstico esdrúxulo para distintas condições nosológicas, incluindo pessoas sem qualquer vestígio de anormalidade e assintomáticas. 

O problema foi internacionalizado e agravado sensivelmente com a difusão mundial do eletroencefalograma (EEG); particularmente da sua variante pilantra: o eletroencefalograna. Além disso, muito desgraçadamente, efeitos colaterais típicos de drogas barbitúricas, vide narração da professora, surrealmente foram incorporados ao rol de sintomas "disrítmicos" e assim contribuíram para reforçar nos familiares das vítimas a "certeza do diagnóstico".

Entretanto, foi tragicômico perceber que miseráveis sofrendo de genuínas epilepsias, continuavam recebendo o mesmo diagnóstico; mas, aqueles com a mesma condição (ou simplesmente sofrendo de coisa alguma), que faziam parte das classes média ou alta, após a realização de um inescrupuloso EEG eram charmosamente diagnosticados como "disrítmicos cerebrais". Enfatizo ser notável perceber um status social bem distinto; enquanto sofrer da tal disritmia conferia (e ainda confere) uma positiva qualificação, o diagnóstico de epilepsia continuava e continua sendo uma espécie de praga celestial. Todavia, aos disrítmicos e familiares, como uma espécie de tributo, lhes é exigido um eletroencefalograna a cada 2-3 meses, enquanto aos epiléticos miseráveis ironicamente lhes é dito: já sabemos o que você tem e exames são desnecessários

No passado, barbitúricos eram o tratamento único para ambos, com uma ressalva: gardenal para os epiléticos da periferia e mysoline (primidona) para os disrítmicos da aristocracia. Contudo, com o passar dos anos, disritmologistas modernos descobriram em "tegretol"/"trileptal" a melhor alternativa para seus iatrogenizados pacientes. DC é um diagnóstico fraudulento que urge ser banido da sociedade brasileira. Neste desígnio, o revolucionário impacto da informação, é de longe a melhor solução e este remédio tem demonstrado sua eficácia, haja vista a redução progressiva dos apenados com este diagnóstico entre nós. 

Fenitoína ou feiotoína
Pesquisadores norte-americanos, muito provavelmente, misóginos radicais, descobriram fenitoína (PHT) ao final dos anos trinta do século passado e a apresentaram ao mundo como "grande droga anti-epiléptica, indispensável no tratamento de pessoas com epilepsia". Enfim, tínhamos uma droga mágica, aparentemente com "eficácia superior ao fenobarbital (PB) e menor toxicidade". E quando se ganha uma guerra, a versão do vencedor passa a ser verdade inquestionável, geralmente assumindo caráter de dogma religioso. Apesar do estardalhaço inicial, PHT revelou ser uma droga com espectro de ação semelhante ao PB alemão e com efeitos negativos também. Alguém então sugeriu, hipoteticamente, que a combinação de PB com PHT teria efeito sinérgico e assim finalmente surgiu a "medicação ideal", alcunhada de "comital" e difundida amplamente pelo universo.


Durante décadas, PHT (associado ou não a fenobarbital) foi usada massivamente no tratamento de pessoas com epilepsia, sem que ninguém ousasse comentar seus inúmeros e freqüentes efeitos desagradáveis. PHT é considerada uma droga anti-epilética maior e não discordamos disso; porém, todos que a prescrevem generosamente, deveriam igualmente ter em conta que ela é também a maior causa de feiúra medicamentosa da atualidade. Aliás, neste aspecto, seu potencial é tão dramático que melhor seria chamá-la de "feiotoína", tal a desgraceira estética que geralmente provoca nos seus usuários. Particularmente as mulheres pagaram um pesado tributo no passado (e muitas seguem sendo desfiguradas no presente), sendo alijadas do convívio social por apresentarem a síndrome feiotoínica clássica: brutal halitose, consequência de sangramentos provocados por gengivite hiperplásica; hirsutismo sutil ou generalizado e acne difusa.
Contudo, muitos colegas ainda tem a percepção dos seus defeitos ofuscados por uma fé messiânica em sua eficácia anti-epilética; provável subproduto da colonização norte-americana. Desta maneira, sofismam sistematicamente na ânsia de enfatizarem suas virtudes e omitirem seus graves defeitos. É possível que feiúra confira status social em algumas sociedades desenvolvidas; mas, entre nós latinos, seguramente não. Por isso, preservar os indivíduos sofredores de epilepsia, em especial mulheres, dos inconvenientes comuns desta droga, deveria ser uma meta a ser perseguida por todo médico crédulo no sábio dito popular: prevenir é sempre melhor que remediar. Mais ainda, se levarmos em conta os honorários cobrados por dentistas, esteticistas, psicólogos e cirurgiões plásticos; profissionais geralmente envolvidos na tentativa de reparação.

Fenobarbital: de panacéia a vilão
Em primeiro lugar, para que não paire dúvida, gostaria de lhes reafirmar uma convicção: barbitúricos são altamente eficientes para impedir a recorrência de ataques epiléticos diversos. Sinceramente, não vislumbro dentre as atuais drogas anti-epiléticas (DAE), alguma com eficácia superior. Entretanto, a performance de uma DAE não pode ser medida exclusivamente pela sua habilidade em anular epilepsia; assim, seus potenciais efeitos negativos nunca deveriam ser perdidos de vista pelo terapêuta responsável. Com relação a fenobarbital (PB), demoramos excessivamente para reconhecer seu mais grave problema: é extremamente difícil encontrar um usuário crônico que não desenvolva barbiturismo, isto é, a combinação de sonolência (ou paradoxal hipercinesia) com transtornos cognitivo-comportamentais em grau variado. Como crianças e adolescentes são particularmente vulneráveis, é possível inferir o fantástico número delas que foram desgraçadas pelo uso abusivo de PB até recentemente entre nós. Muitos dos seus usuários, prisioneiros do próprio tratamento, foram iatrogenicamente transformados em pacientes psiquiátricos e encaminhados para "tratamento especializado" em deprimentes masmorras psiquiátricas espalhadas pelo país, de onde poucos saíram, e vivos menos ainda. Além disso, depressão grave induzida pelo seu uso prolongado, é por demais freqüente para ser ignorada e deveríamos dar um basta definitivo na tragicomédia representada pela prescrição de drogas anti-depressivas para o tratamento deste comum efeito colateral.

Para aqueles que tão cegamente defendem seu emprego indiscriminado, sugiro uma pausa para reflexão: será que os fabulosos escritores Dostoievsky e Machado de Assis, teriam a mesma produção literária tomando PB diariamente? Imaginem o desastre que seria, Cesar ou Alexandre da Macedônia liderando campanhas militares com PB todas as noites. O imperador romano então, caso conseguisse atingir Cairo, certamente desapontaria sua amada com sua performance britânica...Cleo: I am british, no sex please! Ou, formulando a mesma questão de uma forma mais abrangente: cite algum grande personagem, de qualquer área do saber, medicado por tempo prolongado com PB. Qual?

Muito provavelmente, a crença na eficácia monstruosa desta droga entre médicos, deve-se a sua ignorância da evolução natural da maioria das epilepsias: cura espontânea com o tempo. Desculpem-me, mas é oportuno recordar um milenar conceito hindu: Medicina é a arte de entreter a doença enquanto a mãe natureza faz o seu papel. Assim, é melancólico atribuir a PB, ou aos seus próprios poderes, algo que aconteceria naturalmente. 

Contudo, seria leviano negar algumas das suas virtudes. Certamente, meia vida longa aliada ao seu baixo custo são charmes adicionais que esta droga possui. Além disso, há diversas situações do cotidiano onde bem estar cognitivo/comportamental/sexual pesará menos que eficaz controle ou redução das crises. Por estas razões, PB continua sendo DAE indispensável, sendo censurável a proscrição do seu uso observada atualmente; principalmente diante de tantas drogas modernas fajutas, cujos envolvidos deveriam ser admoestados por envolvimento com propaganda enganosa vulgar. Realço: ao final do milênio presenciamos PB sair de panacéia anti-epilética para a de vilão; sobrando todavia, indicações para sua utilização. Há urgente necessidade de um consenso entre qualificados epileptologistas, para a definição de quando e como usar drogas barbitúricas; pois, por muitos anos ainda, elas continuarão sendo boas alternativas farmacológicas. 

Histeria
Histeria, denominada "transtorno somatoforme" em sua moderna encarnação, é um dos diagnósticos mais freqüentes na medicina contemporânea; aliás, tamanha é sua popularidade entre nós, que seria de interrogarmos a ocorrência de uma verdadeira epidemia de histéricos. Alguns, muito provavelmente por terem sido melhor educados, já se referiam a esta condição usando expressões mais elegantes como "crise psicogênica", "ataque de origem emocional", "distúrbio neuro-vegetativo". Entretanto, é vulgarmente definida por muitos profissionais da saúde com termos pejorativos, tais como "piti", "chilique", "peripaque", entre outras grosserias. Neurologistas, supostamente com educação mais refinada, adotaram a infeliz expressão de origem inglesa: pseudo-crise. Ora, tais crises são bem reais e deveriam ser objeto da mais criteriosa consideração profissional. Mais ainda se levarmos em consideração que não raramente genuínos sofredores de epilepsias distintas (por exemplo, as originárias dos lobos Frontal, Temporal e Epilepsia Mioclônica Juvenil), bem como pessoas vitimadas por polineuropatias periféricas, porfiria intermitente aguda, enxaquecas, esclerose múltipla, miastenia gravis e parkinsonismo, entre outras condições neurológicas, são rotulados como histéricos até que um profissional iluminado pense nestas possibilidades diagnósticas. 


O fato é que repetidos insultos psíquicos podem disparar e perpetuar crises, sejam elas epiléticas ou não. Entretanto, o que realmente gostaria de salientar é a possibilidade de que histeria poderia ser um tipo peculiar de epilepsia, digamos subclínica. Mais intrigante ainda são as recentes evidências em favor desta hipótese. Crises desta modalidade poderiam surgir em decorrências de descargas no sistema límbico e em alguns outros circuitos cerebrais ainda incógnitos; de maneira que a fronteira entre ataques "psicogênicos" e genuínos epiléticos não são tão claras como se supõe no presente. É melancólico ver descaso dedicado aos sofredores desses originais ataques em clínicas epileptológicas.

Enquanto isso, uma espécie de "pororoca" segue acontecendo quando histéricos se defrontam na emergência. Neste embate, invariavelmente o Dr. H. sempre acaba subjugando o paciente H e devido ao ensino altamente preconceituoso da medicina tradicional, a hipótese de tratar-se de uma condição cuja causa não é orgânica, é a senha para desencadear no médico assistente e seus colaboratores um rol de desatinos hidrófobos: água destilada ou soro intramuscular, furosemida endovenosa, amoníaco nasal e overdoses de diversas drogas sedativas, exemplificam os "tratamentos" habitualmente ministrados na atualidade. É dramático constatar que as torturas físicas e psíquicas habitualmente dispensadas a estes peculiares pacientes podem ser ainda mais hediondas. Enema associado a imobilização tipo Velpeau - um método de franca inspiração mengeliana - era recomendado por alguns médicos famosos até um passado não muito longínquo. 

Finalizando, diante das últimas evidências científicas, considero dispensável qualquer sentimento iconoclasta ou bola de cristal, para prever o óbvio: em breve tempo, todas as pessoas atormentadas pelo diagnóstico de histeria serão promovidas a doentes orgânicos, e por conseguinte, poupadas da estúpida abordagem médica que tem patrocinado o seu aniquilamento social. 

Enxaqueca
A despeito do progresso científico logrado nos últimos anos, as enxaquecas, tal qual as epilepsias, permanecem envolvidas por uma bruma misteriosa. Certamente, há entre ambas uma conexão ainda não devidamente esclarecida. O brilhante cientista brasileiro, Dr. Aristides Leão, bem que deu uma enorme contribuição para isso, descrevendo o fenômeno da depressão alastrante, provável chave para uma definitiva compreensão. Infelizmente, preconceituosamente nós médicos, por décadas, ignoramos seu magistral trabalho experimental. Com a continuidade das investigações, será possível responder a uma questão intrigante: as enxaquecas são síndromes epiléticas especiais? 


Na verdade está bem longe de constituir raridade, ver enxaqueca e epilepsia entrelaçadas em um mesmo indivíduo. Entretanto, é exageradamente freqüente, ver sofredores de genuína enxaqueca diagnosticados como portadores de típica epilepsia. O contrário também é possível; mas, presumo ser bem menos comum. Muito provavelmente tal confusão se deve as mencionadas similaridades observadas entre ambas. Todavia, médicos são habitualmente treinados para reconhecer adequadamente apenas um dos componentes das enxaquecas: a cefaléia recidivante. Entretanto, esta condição poderá ser responsável por generosa sintomatologia neurológica, raramente considerada apropriadamente. Deste modo, sintomas perfeitamente explicáveis por esta entidade sui generis são atribuídos a epilepsia (e vice versa) e a detecção de anormalidades eletrográficas, um evento comum na população enxaquecosa, reforça o equívoco diagnóstico. Considerando sua alta prevalência mundial, é possível inferir que uma cifra expressiva de seus sofredores está recebendo inadequado tratamento com drogas anti-epiléticas. Menos mal que a opção terapêutica tenha sido por valproato de sódio; uma droga cuja eficácia na prevenção de ambas, simboliza tão somente mais um elo na ligação entre as mesmas; porém, muitas vezes drogas ineficientes e potencialmente tóxicas são as recomendadas. Apesar das notórias lacunas científicas, o ensino médico deveria esforçar-se para um enfoque objetivo da fenomenologia já identificada como de natureza enxaquecosa.

Epilepsia X doença mental
Tragicamente, por séculos, pessoas vitimadas por epilepsias foram cuidadas pela psiquiatria ortodoxa, uma face truculenta e francamente psiquiátrica da nossa profissão. Sob orientação de Simãos Bacamartes das mais diversas nacionalidades, o planeta foi minado de verdadeiros campos de concentração para enfermos mentais. Mal compreendidas, as epilepsias acabaram arrastadas para o tenebroso baú da doença mental, estabelecendo-se desta maneira um desastrado monopólio do seu tratamento por parte desses profissionais. Em contra partida, eles desenvolveram uma bizarra cultura sobre epilepsia, legando profundas marcas sociais, facilmente perceptíveis em qualquer sociedade. Para reavivar sua memória vejam um dos seus principais legados científicos: ao longo do último século, uma montoeira de asneiras foi escrita sobre uma entidade ímpar denominada de personalidade epilética. Apesar de algumas formas raras de epilepsia cursarem com alterações específicas da personalidade; quando tais disfunções são exibidas, na sua imensa maioria serão secundárias a medicação empregada. Assim, personalidade barbitúrica, antes que epilética, seria o melhor diagnóstico para explicar os transtornos de comportamento típicos, tão comuns nessa população intoxicada cronicamente pelo uso de fenobarbital como panacéia anti-epilética, um equívoco praticado até recentemente.

Aliás, como consultor neurológico, fui testemunha das práticas horrendas desenvolvidas em um macro hospício da periferia de Florianópolis, desgraçadamente ainda em atividade, e posso inferir que métodos idênticos ainda ocorrem em instituições similares difundidas por todo o Brasil. Incontáveis sofredores de epilepsia, ou de outras desordens mentais, brilhantes intelectualmente ou não, foram destruídos com o silêncio cúmplice da Medicina. Mas finalmente nos últimos anos a sociedade parece ter despertado para este descalabro, haja vista a movimentação nela observada para o desmantelamento destas casas insalubres de triste memória. Entretanto, o ideal de retroceder no tempo para remediar a abordagem lastimável de outrora, por ser inviável, deveria nos fazer vigilantes para impedir a repetição dessa tragédia. Além disso, esforços deveriam ser empreendidos por todos aqueles verdadeiramente médicos, independentemente da sua qualificação, para a liberação de todos aqueles indivíduos que seguem aprisionados e reféns do próprio tratamento inadequado, sem qualquer perspectiva de recuperação.

Crises parciais
Um lapso comum entre médicos é a pouca importância que dão ao componente parcial/focal das epilepsias. Uma anamnese deficiente é a responsável por isso, resultando em classificação inadequada das crises. Isto é, ataques parciais são frequentemente rotulados como generalizados, por não serem feitas perguntas simples, porém altamente esclarecedoras; como por exemplo: você tem ameaça/aviso da crise. Qual a importância disso? Crises parciais são a expressão mais comum das epilepsias e exigem sempre um esclarecimento etiológico.

Dentre elas um tipo segue sendo largamente negligenciado: ataques psíquicos. Tais crises constituem as manifestações mais fascinantes das epilepsias e a despeito de serem pouco relatadas, não deveriam ser consideradas raridade. Aliás, a história da humanidade está repleta de episódios sugestivos de que esta modalidade de crise, juntamente com as do tipo sensoriais especiais, marcaram a evolução da nossa espécie; influenciando destinos e, igualmente, gerando desatinos. Certamente foram responsáveis por fatos e invenções geniais também. Curiosamente, é possível suspeitar que diversas religiões influentes e igualmente inúmeras seitas minoritárias tiveram sua criação embasada por ataques epiléticos desta natureza. Fugazes imagens fantásticas, um aspecto comum em muitas delas, contribuíram para a rica mitologia que lhes of//erece sustentação popular (por favor, exclua deste pensamento, credos modernos de bem nítida e exclusiva inspiração pecuniária). 

Diz o adágio popular, que a criatura sempre se volta contra o seu criador; ironicamente elas retribuíram ao seu criador epilepsia, com a disseminação na sociedade de sofismas e fantasias discriminatórias sobre esta condição e seus sofredores, paradoxalmente alimentadas por muitos profissionais da saúde. Assim, é bastante provável que a equivocada interpretação religiosa da fenomenologia epilética tenha originado o brutal preconceito vigente, responsável pelas graves limitações sociais enfrentadas pelos seus sofredores. Diante desta realidade, pode ser encarado como natural a habitual negação desses sintomas durante as excessivamente dinâmicas consultas médicas da atualidade. Eles somente aparecerão na sua plenitude quando é criado um clima de absoluta confiança e cumplicidade entre paciente e terapeuta. Aqui, mais que nunca, educação e simpatia são pré-requisitos imprescindíveis para a obtenção de uma história clínica realmente esclarecedora.
Por outro lado, ataques parciais psíquicos geralmente são acompanhados de uma alteração qualitativa da consciência e, por conseguinte, vistos no contexto de crises parciais complexas. Apesar disso, transtornos episódicos da memória, tipo jamais vu ou déjà vu, extremamente comuns e quase nunca objetos de consulta médica, deveriam ser classificados como parciais simples devido à clareza com que seus sofredores descrevem o evento. Da mesma forma, as crises manifestas por passagens rápidas de experiências prévias, uma espécie de flashback cinematográfico. Associados com turvação da consciência existem uma gama variada de sintomas que embora não exclusivos de epilepsia são altamente sugestivos dela, tais como: estados de sonho; prazer ou desprazer extremos; medo intenso; ataques de raiva ou riso; alucinações visuais ou auditivas fantásticas; sensação de despersonalização; etc. Perceba, por favor, que nem todas estas crises estão associadas com sintomatologia desagradável; na verdade, algumas delas são responsáveis por fugazes momentos de felicidade, indescritíveis adequadamente, por pacientes atemorizados quanto à sua natureza. Infelizmente, nós médicos, por desvio de formação, somos treinados para enfocar as doenças e não os doentes; enfatizar os defeitos e não as virtudes, e, por isso, deixamos de vislumbrar esse lado fascinante das crises epilépticas.

Cisticercose
Tomografia computadorizada de crânio contribuiu decisivamente para um reconhecimento da importância de neurocisticercose (NC) entre nós. NC é a principal causa de epilepsia no mundo e a percepção tardia da sua gravidade no Brasil, serviu para ilustrar a fragilidade da nossa medicina preventiva. Minúsculos doutores, esquivando-se de "fazer o dever de casa", emprestaram enorme colaboração a essa peste do subdesenvolvimento. Omissos, esqueceram o exemplo de cidadania do advogado Monteiro Lobato, que com seu singelo almanaque do "Jeca Tatú", contribuiu para a erradicação do "amarelão" no Brasil. Faturando com a desgraça alheia, ironicamente esqueceram que a doença atingiu e persiste acometendo pessoas muito próximas de si e, bestialmente, nada fizeram para um efetivo controle/erradicação da condição.

Hoje, solicitamos ressonância magnética para o diagnóstico etiológico da epilepsia incógnita, desconsiderando TC como o exame complementar ideal para a sua investigação inicial. Assim, pessoas vitimadas circulam pelo Brasil e o mundo, fazendo toda sorte de exames complementares, para finalmente terem NC como diagnóstico num vulgar exame tomográfico feito em um fim de mundo qualquer, onde TC está disponível. Impossível omitir as semelhanças: o equívoco do EEG confirmando "disritmia cerebral" é análogo a RM negando NC.
Apesar de tudo, e notável ver colegas inteligentes e sensatos, lutando para a implantação de práticas profiláticas junto a população. Por outro lado, é insultuoso perceber a posição adotada por alguns pseudo-professores de neurologia, ávidos em exibir consequências de NC, ao invés de ensinarem aos seus discípulos como preveni-la. Pior ainda é observar que disseminam no meio conceitos tipo: "está aqui, você tem a larva do porco na cabeça"; ou a velha e ultrapassada máxima, "epilepsia secundária a NC é fácil de tratar, mas difícil de curar" e assim por diante.
Convicto de que o Brasil será um dos grandes fornecedores de comida para o mundo, alimento a expectativa de que um dia cobrem seu real valor. Na verdade, o interesse internacional pelos produtos das nossas agro-indústrias aumentaria substancialmente quando esse flagelo terceiro-mundista for banid012.;;0;~.≤ 0o destas bandas. Erradicar cisticercose e suas diferentes apresentações do Brasil é algo exequível, bastando a decisão política para seu enfrentamento eficaz. Nossas autoridades deveriam ter em mente que pelo menos um quarto da população epilética nacional tem na NC sua origem. Além disso, quadros neurológicos mais graves não constituem raridade. Desta maneira, podemos inferir que a soma de recursos despendida para tratar NC é muitíssimo maior que àquela necessária para uma efetiva profilaxia. Finalmente, desde que um Estado com economia fragilizada como Cuba o fez, porque não fazê-lo aqui? Obviamente não possuímos o altruismo ideológico que o Estado cubano exibe para com a saúde da sua gente; entretanto, não deveríamos prescindir da inteligência e da aritmética elementar, cuja utilização conduziria facilmente a eleição da prevenção como a melhor alternativa.
 
Eletroencefalo...grama ou grana?
Neste tópico, em primeiríssimo lugar, gostaria de lhes salientar uma convicção: eletroencefalograma é um exame complementar cuja natureza dispensaria qualquer tipo de adjetivação. Obviamente há distintas formas de obtê-lo; entretanto, é bastante provável que seu mentor, Hans Berger, deve andar muito furioso na sua sepultura; pois andam dizendo pelos quatro cantos que o método desenvolvido por ele é capaz de confirmar ou de descartar a possibilidade de epilepsia ou de fazer estranhos diagnósticos também. Por favor, se por acaso o são, esqueçam ser proprietários de máquinas e leiam bem atentamente o que lhes afirmo, propositadamente escrito em letras maiúsculas para que tenha maior espaço nas suas memórias e talvez contribua para a reabilitação do cidadão teimoso, que insiste em habitar suas entranhas: ELETROENCEFALOGRAMA, QUANDO ANALISADO ISOLADAMENTE, NÃO DIAGNOSTICA COISA ALGUMA! 


Eletroencefalografia permanece sendo imprescindível para uma classificação adequada das epilepsias e também da definição da área cerebral epileptogênica; algumas vezes, reconheço, um coadjuvante útil em outros transtornos neurológicos, mas rigorosamente nada além disso. Aliás, de tanto ver desgraçados por EEGs inescrupulosos, há alguns anos, cunhei a expressão eletroencefalograna para melhor designá-los. Certamente que esta aberração não é uma exclusividade do nosso país. Mas, considero perversa fantasia, a pregação para estudantes ou médicos, de que o método teria capacidade além das mencionadas. Agravante maior é quando a perversão do seu uso é absolutamente consciente, expressando pilantragem explícita; e o famigerado "mapeamento cerebral" é um bom exemplo disso. Àqueles que deliberadamente ludibriam a confiança das pessoas anônimas que atendem, se prevalecendo do fato delas terem sido educadas desde a infância para acreditarem cegamente na palavra do "curandeiro", uma palavra final: dinheiro, certamente oferece acesso a prazeres diversos; mas, quando obtido de maneira eticamente censurável, fatalmente cobrará juros, correção monetária e o mais grave, sua honra. E este atributo não tem moeda que pague. Além disso, este tipo de fortuna, costuma desencadear cenas bem desagradáveis; sobre sua catacumba, seus descendentes, a tapa, disputarão seu espólio e aos advogados das partes, caberá o melhor quinhão. Pense nisso!
Resgatar o uso sadio da eletroencefalografia deveria ser tarefa de todos os verdadeiros profissionais beneficiários do método. Particularmente as sociedades especializadas, deveriam considerar o quão importante é sua reabilitação e iniciar a espinhosa; porém inadiável, repressão a delinquência despudorada responsável pela sua caricaturização entre nós.

Despreconceituando
A prevalência de epilepsia, como problema de saúde, é estimada entre 0,5 - 3% da população em geral. Ela é aparentemente menor nos países escandinavos e maior nas sociedades ditas terceiro mundistas. No Brasil, há indícios de que 1 - 2% da população é acometida por alguma das formas de epilepsia que necessitarão de assistência médica.

Entretanto, o leitor deveria considerar que o cérebro, uma máquina sofisticada, com aproximadamente 15 bilhões de neurônios conectados e comunicando-se entre si através de estímulos bioquímicos geradores de potenciais elétricos, está fadado a apresentar oscilação episódica no seu funcionamento, não importando quem seja o seu dono nem tampouco o uso que dele faz. Crises de epilepsia nada mais são que a expressão deste transtorno elétrico afetando o córtex cerebral. Por esta razão, é extremamente freqüente observarmos pessoas absolutamente normais, descrevendo reais crises de epilepsia com sintomatologia menor (ataques de déjà vu ou jamais vu, por exemplo) e que, por isso mesmo, jamais serão objetos de uma consulta médica. Além disso, deveríamos levar em conta, também, que nem sempre crises de epilepsia são desagradáveis e que muitas delas poderão ser prazerosas, havendo uma recusa natural destas pessoas em buscarem serviços médicos. Igualmente, muitos sofredores de crises de natureza psíquica, por temor de terem seus sintomas interpretados como psiquiátricos por profissionais mal informados ou possessão demoníaca por líderes religiosos diversos, irão resistir em relatar seus estranhos sintomas a terceiros.
Na verdade, há diversas evidências sugestivas de que crises epilépticas fortuitas serão exteriorizadas por 100% (cem porcento) dos seres humanos ao longo das suas vidas, não importando à qual raça, sexo ou qualificação sócio-econômico-cultural pertençam. Aliás, inúmeros inexplicáveis sintomas neurológicos fugazes do cotidiano poderiam ser racionalmente atribuíveis a crises de epilepsia, ou a transtornos da eletricidade cortical - se preferirem uma denominação mais simpática.
Infelizmente, investigadores em cobaias de laboratórios, e médicos, não focam esses aspectos, resultando numa interpretação ainda bastante primitiva do que seja epilepsia e suas manifestações; predominando uma visão calcada em dogmatismos idiotas de franca inspiração religiosa antes que científica. A propósito, investigações recentes tem demonstrado que ataques epiléticos ocorrendo de maneira espontânea ou induzidos terapeuticamente, protegem contra depressão. Desta maneira, em contraste com a cultura folclórica vigente que somente enfatiza os alegados sintomas psicopatológicos das epilepsias, soa como muito charmosa a hipótese de que alguns indivíduos possam necessitar de descargas epiléticas episódicas para manter sua sanidade mental.
Por outro lado, a humanidade é repleta de indivíduos ególatras que, estupidamente idealizam serem perfeitos, ignorando que a perfeição não existe e que todos nós, sem exceção, possuímos algum defeito, seja ele de fábrica ou adquirido. Desgraçadamente, muitos deles ostentam títulos universitários, são professores e até chefes de estado, enfim, muitos são pessoas importantes na sociedade. Aparentemente sadios e corretos, estimulam atitudes discriminatórias contra grupos expressivos da população rotulados como deficientes, incrementando ainda mais dificuldades existenciais àquelas pessoas.
Particularmente, apreciaria muito que reconhecessem a magnitude do fenômeno epilepsia e suas distintas formas de apresentação, interrompendo a negativa visão mitológica ou "ratológica" que disseminam. Admitindo preconceito como o dileto filho bastardo da mama ignorância e que ele per si é o responsável por um pesado tributo imposto aqueles que sofrem de epilepsia, uma redução significativa das limitações médico-sociais enfrentadas pelas vítimas desta condição poderia ser vislumbrada com a propagação das informações aqui veiculadas, e esta meta e esperança foram minha maior motivação durante a redação deste artigo.
Dr. Paulo Cesar Trevisol Bittencourt é professor de Neurologia e presidente do Centro de Estudos do HU/UFSC (www.neurologia.cjb.net)

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Atualizado em 10/07/2002
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